Estratégia criminosa: igreja camuflada vira bunker de tiros em Parada de Lucas
Quando policiais civis chegaram à dita igreja em Parada de Lucas, deram de cara com uma estrutura que era qualquer coisa, menos religiosa. O imóvel, todo camuflado, tinha paredes reforçadas e seteiras — aquelas aberturas clássicas de fortalezas medievais, mas agora voltadas para o crime moderno. De lá, traficantes do Complexo de Israel usavam os buracos para abrir fogo contra helicópteros da polícia, sem medo de serem atingidos. Guarnecidos por muros de concreto, eles criaram um verdadeiro bunker. O local acabou demolido durante a operação, mas o recado sobre o tipo de enfrentamento mudou de patamar.
O Complexo de Israel, na zona norte, não é só Parada de Lucas: ele engloba comunidades já dominadas pelo Terceiro Comando Puro (TCP), como Vigário Geral, Cidade Alta e Cinco Bocas. Essa estrutura era parte de um esquema muito bem planejado pelos criminosos, que ocuparam pontos elevados e criaram múltiplos pontos de defesa — em total descompasso com a ideia do que uma igreja deveria ser. Os sete meses de investigação mapearam oito desses pontos estratégicos usados para dificultar a entrada das forças de segurança, numa coreografia de confronto que incluía inclusive a interdição proposital de vias importantes da cidade.
Prisão de soldado, apreensões e impacto na cidade
A operação pegou pesado: 20 suspeitos acabaram presos no rastro da blitz policial, entre eles Luan Lucas França do Nascimento, um soldado do Exército brasileiro que teria integrado o grupo responsável pelos ataques às aeronaves. Além das prisões, a polícia tirou de circulação oito fuzis carregados, duas pistolas, granadas, coquetéis molotov e uma quantidade significativa de drogas — arsenal que deixava clara a disposição dos traficantes para confronto armado.
O barulho do tiroteio não ficou só na comunidade, não. Durante a ação no Complexo de Israel, Avenida Brasil e Linha Vermelha — duas artérias do trânsito carioca — precisaram ser fechadas por mais de uma hora. Motoristas presos no congestionamento, vans e ônibus desviando no desespero, tudo mudou no cotidiano de quem sequer sabia o que se passava dentro dos muros de concreto da falsa igreja.
Esse tipo de operação evidencia como as facções, principalmente o TCP sob o comando de Álvaro Malaquias Santos Rosa, o 'Peixão', que segue foragido, não medem esforços para resistir. Eles organizam protestos, queimam ônibus para criar barricadas e desviar a atenção das operações, tornando cada investida policial um verdadeiro jogo de estratégia urbana. Para quem vive nesses bairros, o medo acaba se tornando rotina — e estruturas como essa igreja disfarçada mostram como o crime se reinventa para seguir na disputa pela região.
Comentários
Bruno Alves
junho 15, 2025Essa operação foi um dos momentos mais importantes dos últimos anos na segurança pública do Rio. Não é só destruir um bunker, é desmontar um sistema de poder que se escondia atrás de símbolos sagrados. A sociedade precisa entender que o crime organizado não é só violência, é planejamento estratégico. Eles usam a fé como disfarce e a ignorância como aliada. Isso aqui é um alerta para todos os bairros que ainda acham que 'não é problema deles'.
Pedro Mendes
junho 17, 2025Falsa igreja? Tá, mas o que mais esperava? O TCP usa até igreja evangélica pra lavar dinheiro. Esse é o nível de desfaçatez que só existe onde o Estado desiste primeiro.
Antonio Augusto
junho 19, 2025Cara a polícia sempre faz esse drama mas no fim do dia o que muda? A gente vê o mesmo lugar de novo com outro nome e mais armas. Eles demoliram a igreja mas não demoliram o poder. O Peixão tá em outro lugar e tá rindo. A gente só fica aqui no celular assistindo
Cristiano Govoni
junho 19, 2025Isso aqui é o que acontece quando você deixa o crime se organizar como um exército. Eles têm logística, treinamento, pontos de observação, até comunicação entre os bairros. E a gente ainda acha que polícia resolve tudo com blitz? Não. Precisamos de inteligência, de presença constante, de programas sociais que realmente funcionem. Isso não é só operação, é guerra. E nós estamos na linha de frente sem nem perceber.
Leonardo Cabral
junho 19, 2025Soldado do Exército envolvido? Isso é traição. Isso é o fim da pátria. Enquanto os nossos homens da Força Pública arriscam a vida, um dos nossos soldados tá ajudando os traficantes a matar policiais. Isso aqui não é crime, é decadência moral. E o que o governo faz? Fala em diálogo. Dialogue com quem? Com quem tem fuzil e muro de concreto?
Pedro Melo
junho 20, 2025É fascinante como a narrativa pública ainda se concentra na destruição física, quando o verdadeiro problema é a erosão institucional. A militarização do espaço urbano por facções criminosas é um sintoma de falência do contrato social. A igreja como bunker é uma metáfora perfeita: a moralidade pública foi substituída por uma ética de sobrevivência. E nós, cidadãos, nos tornamos espectadores passivos de uma tragédia que poderia ter sido evitada com investimento em educação e justiça, e não em operações paliativas.
Guilherme Tacto
junho 22, 2025Alguém já parou pra pensar que essa 'igreja' pode ser só um esconderijo? E se os seteiros não eram pra atirar nos helicópteros, mas pra esconder câmeras de vigilância? E se o Exército envolvido foi usado como isca? E se tudo isso foi uma operação de contra-inteligência para justificar a militarização da zona norte? A mídia nunca conta a verdade. O que vocês acham que aconteceu com os dados dos drones que passaram por lá antes da operação?
Suzana Vidigal Feixes
junho 23, 2025Essa estrutura tá ligada ao projeto de controle territorial do TCP que usa a teologia como ferramenta de cooptação e a arquitetura como vetor de dominação espacial. A igreja como dispositivo de poder é um fenômeno de hibridismo criminológico que exige uma abordagem interdisciplinar que envolva criminologia, urbanismo e psicologia social
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