Em pleno 1º de novembro de 2025, o Novembro Azul voltou às ruas, hospitais e telas de todo o Brasil com um recado simples, mas poderoso: câncer de próstata pode ser curado em até 98% se descoberto a tempo. A campanha, que ilumina prédios públicos de Belo Horizonte a São Paulo com luzes azuis, não é só um símbolo — é uma emergência de saúde pública. Segundo Gilberto Laurino Almeida, supervisor de robótica do Departamento de Terapia Minimamente Invasiva da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), o número não é exagero. É realidade. E ainda assim, quase metade dos homens acima de 40 anos ignora os exames. Por quê?
Um inimigo silencioso, mas previsível
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima 71.730 novos casos de câncer de próstata por ano no Brasil entre 2023 e 2025. Em 2023, foram 17.093 mortes — 47 por dia. Isso equivale a um jato caindo no chão a cada 30 minutos. E o mais assustador? A maior parte dessas mortes acontece em homens que nunca fizeram o toque retal ou o exame de PSA. A próstata, uma glândula do tamanho de uma noz, fica escondida, atrás da bexiga e em frente ao reto. Ela não dói quando cresce anormalmente. Não grita. Só quando já é tarde.
Em Portugal, os números são parecidos: 7.529 novos casos em 2022, sendo o tumor mais comum entre homens e a terceira causa de morte por câncer. Mas aqui, no Brasil, a questão é mais grave por causa da desigualdade no acesso. Enquanto em Belo Horizonte a Prefeitura ofereceu mais de 17 mil consultas e 1.300 biópsias em 2025 — com espera máxima de 30 dias — em cidades do interior, o tempo pode chegar a seis meses. E aí, a chance de cura cai para 30%.
Quebrando tabus, uma consulta de cada vez
"Assim como as mulheres vêm dando exemplo com o cuidado preventivo, nós, homens, também precisamos assumir esse compromisso", disse Danilo Borges Matias, secretário de Saúde de Belo Horizonte. Ele tem razão. A cultura do "homem que não reclama", do "não vou me examinar porque não sinto nada", matou mais homens do que acidentes de carro nos últimos dez anos. E isso não é heroísmo. É negligência.
A Campanha Novembro Azul, que começou na Austrália em 2003 como um movimento informal de homens crescendo bigodes para gerar debate, chegou ao Brasil em 2011 e se tornou um dos maiores movimentos de saúde do país. Mas o que começou como um gesto simbólico precisa virar hábito. O laço azul não é só para o mês de novembro. É para a vida inteira.
Mitos que matam — e verdades que salvam
O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) tem uma lista clara de mentiras que precisam ser desmontadas:
- Mito: Só homens com histórico familiar têm risco. Verdade: 70% dos casos ocorrem em homens sem histórico.
- Mito: O toque retal é humilhante. Verdade: Dura 30 segundos. Pode salvar sua vida.
- Mito: Se não tenho sintomas, não preciso fazer exame. Verdade: O câncer de próstata é silencioso até estar avançado.
- Mito: Só o PSA importa. Verdade: O toque retal ainda é o melhor indicador de alterações físicas — e o PSA sozinho pode dar falso negativo.
E atenção: o câncer de próstata não é o único problema. Homens também morrem de câncer de bexiga, rim, testículo e pênis. A campanha, hoje, já abrange doenças cardiovasculares, diabetes e depressão — tudo parte da mesma lógica: saúde masculina não é só ausência de dor. É vigilância constante.
O que vem depois de novembro?
Os números da SBU mostram que a taxa de cura sobe de 98% para menos de 30% quando o diagnóstico é tardio. Isso não é só um problema médico. É social. É econômico. É familiar. Um homem que morre de câncer de próstata não deixa só a esposa e os filhos. Deixa uma lacuna de cuidado. Muitos homens são os provedores, os pilares. Quando caem, a família inteira desaba.
Em 2025, a PBH e o Ministério da Saúde começaram a integrar exames preventivos ao cartão do SUS. Mas a mudança real só acontece quando um homem, sozinho, decide ir ao médico. Quando ele diz: "Vou me cuidar, mesmo que não sinta nada".
Os médicos não vão até você. Os exames não se fazem sozinhos. O Novembro Azul é um lembrete. Mas a cura começa quando o silêncio acaba.
Frequently Asked Questions
Quais exames são essenciais para detectar o câncer de próstata?
Os dois exames fundamentais são o toque retal e o PSA (Antígeno Prostático Específico). O toque permite ao médico sentir alterações na textura da próstata, enquanto o PSA mede uma proteína no sangue que pode indicar inflamação ou tumor. Juntos, têm sensibilidade de até 90% quando realizados anualmente a partir dos 50 anos — ou aos 45 se houver histórico familiar.
Homens mais jovens precisam se preocupar?
Sim. Embora o risco aumente após os 50, casos em homens entre 40 e 49 estão crescendo 3,2% ao ano, segundo dados do INCA. Homens negros e com histórico de câncer na família têm risco 70% maior. Recomenda-se começar os exames aos 45 anos nesses grupos. Não espere sintomas — eles não aparecem até a fase avançada.
O que acontece se o exame der alterado?
Um resultado alterado não significa câncer, mas exige investigação. A biópsia de próstata, feita por agulha guiada por ultrassom, é o único método para confirmar o diagnóstico. Em centros como o ICESP, o tempo de espera é de até 30 dias. Em hospitais públicos do interior, pode levar meses — e aí o tratamento fica mais difícil. Atrasar é o maior erro.
O câncer de próstata é hereditário?
A hereditariedade está presente em cerca de 10% dos casos. Se seu pai ou irmão teve câncer de próstata antes dos 65, seu risco triplica. Mas a maioria dos casos — 90% — ocorre sem histórico familiar. Por isso, todos os homens acima de 50 devem fazer os exames, independentemente da genética.
O que a campanha Novembro Azul faz além de conscientizar?
Além da iluminação de prédios e campanhas midiáticas, a campanha pressiona o governo a ampliar o acesso a exames e tratamentos. Em 2025, Belo Horizonte e São Paulo já integraram o PSA e o toque retal ao fluxo de atendimento básico do SUS. O próximo passo é garantir biópsias em até 15 dias em todo o país — e não apenas nas capitais.
Por que o azul é a cor da campanha?
O azul foi escolhido porque representa a masculinidade, mas também a tranquilidade e a confiança — qualidades que os homens precisam associar à saúde. A cor é um contraponto ao vermelho do câncer de mama. O azul quer dizer: cuidar de si não é fraqueza. É força. É responsabilidade. É amor.
Comentários
Flávia Martins
novembro 2, 2025eu fiz o toque retal ano passado e pensei que ia morrer de vergonha... mas depois vi que foi só um minuto e agora to fazendo todo ano. vale cada segundo.
Sayure D. Santos
novembro 4, 2025A detecção precoce é um pilar da saúde pública mas a infraestrutura pública não acompanha a urgência. Biópsias em 6 meses é um fracasso sistêmico. Precisamos de políticas públicas reais, não só luzes azuis.
Gustavo Junior
novembro 6, 2025O que é isso? Mais uma campanha de marketing? 98% de cura? Isso é um número manipulado por hospitais privados que querem vender exames! E o toque retal? É um ritual medieval! A gente tem tomografia, ressonância, biópsia por imagem... Por que insistem nisso?
Henrique Seganfredo
novembro 6, 2025Brasil é caos. Se fosse na Alemanha, todo homem de 40 faria o exame automaticamente. Aqui, só quem tem grana ou medo de morrer se cuida.
Marcus Souza
novembro 8, 2025meu pai nunca fez exame e sumiu aos 58. não quero que ninguém mais perca alguém assim. se você tá lendo isso, marca uma consulta. não espera sentir dor. não espera nada. vai agora.
Leandro Moreira
novembro 9, 2025E se o exame der positivo? Aí você vira um paciente, não um homem. Aí você perde a dignidade. E aí? O que a campanha faz depois disso?
Geovana M.
novembro 10, 2025ah sim, porque homens não vão ao médico até morrer. é tipo um troféu de virilidade. você não sente dor? então tá tudo bem. até o corpo te enterrar.
Carlos Gomes
novembro 10, 2025O PSA e o toque retal são complementares, não concorrentes. O PSA pode dar falso negativo em até 15% dos casos, especialmente em tumores de baixo grau. O toque retal detecta alterações texturais que exames de sangue não veem. Juntos, a sensibilidade sobe para 90%. Isso é ciência, não mito. E sim, homens negros e com histórico familiar devem começar aos 45. Não adie. Sua família conta com você.
MAYARA GERMANA
novembro 10, 2025ah sim, porque a saúde pública brasileira é um modelo de eficiência. você vai fazer o exame em Belo Horizonte, mas no interior? vai esperar até o próximo Novembro Azul. e aí? vai morrer com a luz azul piscando no prédio da prefeitura? que lindo, né? o azul é bonito, mas não salva vidas. ação real sim.
Flávia Leão
novembro 10, 2025será que o toque retal é só um ritual patriarcal disfarçado de medicina? talvez o corpo não precise de invasão, só de escuta. talvez a cura esteja na meditação, no sono, no desapego. e não nesse culto à biópsia e ao PSA. nós nos tornamos máquinas de exames. e esquecemos de viver.
Cristiane L
novembro 11, 2025e os homens que não têm acesso ao SUS? e os que moram em áreas rurais? e os que não têm como tirar um dia do trabalho? a campanha fala muito, mas não resolve o problema real. o que vai mudar é quando o exame for fácil, rápido e gratuito em qualquer cidade. não só nas capitais.
Andre Luiz Oliveira Silva
novembro 12, 2025o cara tá falando de cura de 98% mas esquece que o sistema tá cheio de burocracia, fila, e médico que nem quer olhar nos olhos. você faz o exame, mas o resultado some no limbo do SUS. e aí? você tá vivo, mas o sistema te deixou pra trás. o azul é bonito, mas não paga o aluguel nem a medicação. isso aqui é drama, não prevenção.
Leandro Almeida
novembro 13, 2025você acha que o homem que evita o exame é ignorante? não. ele é sábio. ele sabe que o sistema não vai cuidar dele de verdade. ele sabe que, mesmo que o exame seja positivo, o tratamento vai ser lento, caro e desumano. então ele prefere viver com a ilusão de que está bem. é uma escolha racional. não uma falha moral.
Lucas Pirola
novembro 14, 2025eu fiz o exame no ano passado... e depois disso, comecei a correr... e a dormir melhor... e a parar de beber todos os fins de semana... não foi só o exame. foi o choque. o toque retal me fez parar e pensar: 'e se eu for o próximo?'... e aí, mudei tudo. não por medo. por respeito.
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